a) O Racionalismo
A filosofia moderna propriamente falando iniciou-se com a teoria do
conhecimento do René Descartes. Conhecido como pai da filosofia moderna, parece
que ele levou muito a sério as palavras do Leonardo Da Vinci que diz "Quem
pouca pensa, muito erra."! [8] Na Idade Média, na sociedade e na
política a Palavra de Deus, considerada fonte única do conhecimento absoluto,
foi interpretada pela igreja que dominava todos os aspectos da vida. O
renascimento trouxe uma ênfase renovada no desenvolvimento científico e na
capacidade humana e a necessidade de uma nova definição do ser humano e seu
lugar no mundo. Na modernidade a chamada Idade da Razão então, surgiu à
necessidade de redefinir os paradigmas, Descartes na declaração, "penso
logo existo", descrito pelo Prof. Wesley Dourado na palestra "Aspectos
Gerais da Filosofia Moderna" [9] sobre as como um "ponto arquemédico
[...] a verdade inicial da qual se poderá constituir outras verdades"
iniciou esse processo. Ele declara que o homem, ser racional por natureza, tem
a capacidade de alcançar o conhecimento e mais que isso, sua existência é
definida pelo ato de pensar.
Por entender ser possível chegar ao pleno conhecimento através do
processo de pensamento racional, Descartes, idealizou um processo de dúvida
metódica pelo qual através da rejeição (eliminação) de pensamentos ou ideias em
que resida a menor dúvida o homem seria capaz de alcançar o conhecimento. As
obras do Descartes formaram a base sobre qual os racionalistas desenvolveram
seus processos.
b) O Empirismo
Quando Leonardo Da Vinci afirma que "A sabedoria é filha da
experiência" (ABBAGNANO, §388) ele de fato resume em poucas palavras a
crença dos empiristas ingleses cujo trabalho antecedeu por quase um século.
Francis Bacon, John Locke[10], David Hume [11] e outros pensadores contra
posição aos racionalistas do continente europeu desenvolveram e propagavam o
raciocínio experimental, ou seja, a teoria de que o único caminho pelo qual o
homem pode chegar ao conhecimento é através da experiência sensível (empírica).
Marlene Chauí explica que Francis Bacon "propõe a instauração de um
método, definido como modo seguro de 'aplicar a razão à experiência', isto é,
de aplicar o pensamento lógico aos dados oferecidos pelo conhecimento
sensível". (2006 p.126)
Marlene Chauí afirma que para os empiristas o contato com o mundo
externo através de um conjunto de sensações (através dos sentidos) leva a um
processo de dedução que possibilita o conhecimento, "O conhecimento é
obtido por soma e associação das sensações na percepção e tal soma e associações
dependem da frequência, da repetição e da sucessão dos estímulos externos e de
nossos hábitos". (2006 p.133) Um fator marcante da modernidade é a
separação entre a Filosofia e a Ciência empírica. A ciência moderna, dependente
nas experiências desenvolvidas em situações controladas, é empírica por
natureza, contrastando-se com o pensamento do Aristóteles que percebia a
Metafísica como ciência primeira.
c) A perfectibilidade.
Os precursores da filosofia moderna entre eles Leonardo da Vinci,
Copérnico e Galileu acreditaram na perfectibilidade da natureza e defenderam a
teoria da perfectibilidade da razão humana. Iniciou-se uma "busca por
expressar, entender, explicar pela razão perfeita a natureza perfeita" [12]
A ciência renascentista entendeu que pelo fato que Deus criou a natureza é
possível conhecer Deus através da natureza e, portanto, produzir conhecimento.
Em sua epistemologia Immanuel Kant sintetizou as teorias de Descarte e
os racionalistas continentais e Hume e os empiristas ingleses.
O processo de racionalização, característico da Modernidade, que
começara com os renascentistas e com os cientistas, e passara por Descartes e
pelos empiristas, podia agora, ser compreendido por Kant como um processo que
representava o curso natural da evolução da sociedade. Finalmente o ser o
humano estava apto para raciocinar sobre a própria razão. (UMESP 2009
p.11)
Leonardo da Vinci via nas formas perfeitas da matemática uma maneira de
ilustrar a perfeição do corpo humano (o homem vitruviano) e assim tomou o curso
da teoria da perfectibilidade. Kant, por sua vez, via na possibilidade do homem
chegar à perfeição um processo natural de desenvolvimento rumo ao
esclarecimento (Aufklãrung), um processo evolução pela qual o homem atinge sua
maioridade, processo que depende não de condições externas, mas, na vontade do
homem, só não tem condições de alcançar essa independência os preguiçosos que
escolhem permanecer na minoridade sob a tutela intelectual de terceiros.
Embora enfatizando e dando destaque alto à razão e a perfectibilidade
humana, Kant e outros filósofos modernos não fizeram nenhuma ruptura dramática
dos valores religiosos da idade média. Essa ruptura veio com os Iluministas
franceses como Voltaire e Diderot que produziram obras laicas e seculares e,
por vezes extremamente críticas da ação de igreja e sua influência opressiva na
sociedade e interferência no governo.
3. Características gerais do iluminismo.
Danilo Marcondes em sua Introdução à História da Filosofia oferece a
seguinte síntese do Iluminismo [13], ou Século das Luzes um movimento do
pensamento europeu (mais forte na França) concentrado principalmente nos
últimas cinco décadas do século XVIII - "O Iluminismo valorizou o
conhecimento como instrumento de libertação e progresso da humanidade, levando
o homem à sua autonomia e a sociedade à democracia, ou seja, ao fim da
opressão." (2007. p.210). Tomando de base suas palavras, o iluminismo como
movimento dentro da modernidade, mantendo a ênfase na racionalidade, tem
características próprias tais como:
a) Liberdade e o fim da opressão.
"a liberdade é condição para que a sociedade siga seu curso natural
rumo ao Esclarecimento" (UMESP, 2009 p.11). A liberdade no
pensamento iluminista é a liberdade da qual Kant escreveu em sua resposta a
pergunta O que é o Esclarecimento?
Esse esclarecimento não exige, todavia nada mais que a liberdade; e
mesmo a mais inofensiva de todas as liberdades, isto é, a de fazer um uso
público de sua razão em todos os domínios [...] Em toda parte só se vê
limitação da liberdade [...] o uso público da nossa razão deve a todo momento
ser livre, e somente ele pode difundir o Esclarecimento entre os homens (KANT -
p.3).
O pensamento iluminista influenciou os grupos responsáveis por
movimentos de libertação no século XVIII, seu efeito foi sentido de maneira
muito particular na França e foi um dos fatores catalisadores da Revolução
Francesa. A burguesia, educado e gerador de riqueza se via presa sobre o jugo
da aristocracia, da monarquia absolutista e da igreja dominantes desde a Idade
Média, obrigada a pagar impostos para manter o luxo de poucos ansiava por uma
sociedade livre. Achou aliados prontos lutar entre as massas paupérrimas de
Paris se levantou em revolta contra a opressão pelo direito de ter liberdade de
escolha sobre o curso da própria vida e uma voz no governo do país que ajudou a
enriquecer. Voltaire [14] que criticou o absolutismo da monarquia, o poder da
igreja e sua interferência no sistema político e influenciou muito o movimento
da revolução acreditava que sem liberdade de pensamentos não existe liberdade.